FRAGMENTOS ( II )

No estrabismo daquele olhar de janelas -na soleira da mais desbeiçada - um par de olhos cansados vagava na solidão amarela das borboletas no pé de açucena.

Entranhado no laranjal, um sabiá quebrava em miudinho o silêncio ambarado da tarde de pouca luz.

Sobras de café sobre a mesa, e do fogão ouviam-se recados borbulhantes de feijão em cozimento.

Na casa escorria uma carência desbotada das paredes sem pintura e um gato enovelado na cadeira, sonhava telhados lavados de luz por onde um dia ainda haveria de reinar.

E aquele olhar na janela , mergulhado na tarde morna , delatava um coração prestes a explodir.

O quintal era seu mundo e no condomínio das alfaces, joaninhas fofocavam serenas.

Esquivando-se no pé de buchas, a cerca de ripas delimitava o território de uma vidinha insípida.

Quisera ter asas e voar!...voar!...

Ir para longe, muito longe...

Então o céu esmaecido, subitamente borrou-se de verde e um bando animado de maritacas lhe convidaram.

Os olhos marejados deram-lhe asas e o convite foi aceito.

Joel Gomes Teixeira

IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 01/06/2021
Reeditado em 01/06/2021
Código do texto: T7269402
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