O MEU BEM VEM ME VER!

O meu peito de poeta tem pressa para encontrar a bússola dos oceanos e a estrela-cadente dos céus. Dizem por aí que o meu bem vem me ver. Não sei quando, mas a notícia amorosa acudiu-me num espanto sorrateiro: o meu bem vem me ver. Pode ser que chegue pelo Porto da Baía de Vitória do Espírito Santo ou pelo Aeroporto Eurico de Aguiar Salles. Talvez venha de dia, talvez de noite. O que importa é o fim da quarentena. Desejo andar de mãos dadas no Parque Moscoso, trocar beijos e afetos na Beira-Mar, assistir filmes franceses no Glória e caminhar trôpego pela Rua Sete. Quando a beleza do mundo aqui chegar, encostaremos os ombros nos nossos olhos embebedados de mútuo amor. Surrupiaremos os sibilos do Relógio da Praça Oito com os nossos gemidos fortes de amantes enclausurados. Rasgaremos a savana no meio da Catedral Metropolitana. Riscaremos nos muros do Convento de São Francisco de Assis os desejos mais profanos sonhados pelos párocos quando retiram as suas batinas na hora de dormir. Vilipendiaremos a moral das carmelitas com os nossos corpos nus que se cruzam - lábio a lábio - na terça hora da Paixão. Queimaremos as bíblias, as torás e os alcorões até sermos incendiados. E morreremos. E juntos, você e eu, o meu bem e nada mais - o nosso bem - tomaremos as asas da alva e o profundo do mar.

Italo Samuel Wyatt
Enviado por Italo Samuel Wyatt em 03/06/2021
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