Para amores que quase foram amores

Há amores que são quase amores. E eu os conheço bem. Não vivem, tampouco se deixam morrer. Ficam somente guardados em algum lugar no tempo e no espaço, apenas não são e nem deixam de ser.

Alguns amores precisam viver assim. Empoeirados em estantes, prateleiras e caixas. Arquivados na memória, nas lembranças e em segredos. Seguem aí vivos e sorrateiros, vez em quando mexem-se um pouquinho, arrancam um suspiro e voltam a adormecer.

Alguns amores moram em corpos, em algum canto do cérebro, do coração e do estômago. Quando o cérebro os mantém sob controle, o coração dia ou outro resolve acordá-los e, inevitavelmente, o estômago sente as consequências: ou voam borboletas por ali ou uma gastrite eles fazem nascer.

Alguns amores não são pra ser, são pra remoer, fazer sofrer. Despertar rancores, raivas, dissabores. São para pôr à prova o nosso controle, nos desafiar, nos contorcer. Causam angústia, tiram nossa paz, nos fazem arrepender, decepcionar ou apenas não saber.

Alguns amores simplesmente não têm nem começo, nem meio, nem fim. Nunca nasceram, de fato, e nunca viveram, nem nunca irão, enfim. Mas também nunca morrem porque seguem sendo para sempre quase amores e sempre serão assim: feito o meu por você, feito o seu por mim.

Porque há amores que serão para sempre apenas quase amores.

Rúbia Mussi
Enviado por Rúbia Mussi em 05/06/2021
Código do texto: T7272093
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.