JÁ ACONTECEU COM VOCÊ

Ali embaixo na magia, estendeu-se ocre e frívolo horizonte

Ao pé da primeira rocha embevecida por liquens

Pomo-nos a observá-lo; tranquilamente, silvava o canarinho

Sombras trancavam aquele horizonte nada plástico

Os gergelins de flores cobriam extensões de pascigo

Como não bastando suas cores, fixávamos no dorido rastro

Em meio ao mausoléu de desconsolo, colavam-se os lábios.

Parecia haver algo de retumbante que o celeste intencionava nos contar

Não haveria casamento nem obra de batismo sob esta paisagem apoética

Aos poucos, definhávamos e todo o grande sentimento ufanista laxava

Muitas vezes, o canário cantou; muitas vezes, sentimos oloroso perfume das flores

Pelos cantos, jaziam resignadas árvores centenárias a nos abrigar de que?

Colite, cefaléia, ascite e até o mal da vaca-louca nos acometia o seposo riscado

Tanta área, tanto campo, e o que nos absorvia era o poderoso manto.

Sariguës chicoteavam os ramos das árvores com suas caudalosas caldas

Muito acima de nós, lanceolava olhares petrificados, o horroroso cementoso

Já não nos abatia tanto; já nos causava asco; já não nos cansava mais

Ao fitar casal de esquilos se deliciando com parda castanha - fruto da castanheira - admiramos

Fixados no alto cume da imponente colina coberta por ciprestes – nem seus topetes tocavam o maldito – começamos a sorrir.

No afã, quando a coruja serviu a nos alertar, descolamos nossos vorazes lábios

E nos pusemos a contemplar a lua e suas irmãs anãs

Ardia uma noite esplendorosa!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 07/11/2007
Reeditado em 24/04/2008
Código do texto: T727799
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