A gazela, o lobo, a flor, o cordeiro
O primeiro ímpeto, empolgação.
O segundo, aprimoramento.
O terceiro, racionalização.
O agora, esfriamento.
Nem a canção preenche mais a casinha.
Ecoa uma voz, e o que fazer para o lobo e a gazela estarem de perto?
De um ouvido a outro atravessa a melodia.
E o que fazer para aproximar o cordeiro da flor?
Pulsão de loucura.
Gana pelo perigo.
Atração pelo não-convencional.
O que fazer com a paixão pelo que não convém?
Tenro é o galho que sustenta a flor.
Floresce, molhada ao orvalho e se oferece em despudor.
A flor, ao se oferecer, dá ensejo ao desejo dos mais horrendos besouros.
De medrosa a desejosa, a gazela tenta beber na fonte.
Anseia pela água e sai à procura em meio a leopardos.
Que sede louca é essa que a mete no arriscado?
E o cordeiro, que tem a ver com isso?
Arisco, o lobo se aproxima, distancia, cuida, dá conselho.
E o melhor conselho deve ser dado ao cordeiro.
E o desejo do lobo é recalcado?
Deve ser. Quer o cordeiro, mas não pode se meter.
Quer o lobo, mas não deve.
Nem pra cuidar, nem pra perder.
Pode o cordeiro ficar perdido.
Não deve o lobo, não deve.
Um adeus à flor.
Um sinal de perigo à gazela.
A espera em quatro anos.
Já não será como era.
É uma pena, mas há de ser.
Melhor assim do que pior.
É o adulto que orienta a criança.
Não a criança que o faz perder.