Brisa outonal, amor natural
As gotas de chuva na janela formavam arte abstrata, que eu, imersa em tamanha poesia, contemplava. Era outono, lá fora, as folhas de plátano tornavam o chão um tapete laranja, que em outros momentos, acalentaria mais do que a cama, mas não hoje, que aqui dentro, o aquecimento dos corações batendo em harmonia, fazia convite para um domingo chuvoso nos braços de um amor seguro e com aroma de chá de amoras, misturado com fragrância de madeira com orvalho, ornamentado com melodia de violão, ao som de Anavitória. Os olhos cor de mar e cabelos ensolarados faziam aqui dentro ser verão, deslizar os dedos pelo corpo arrepiado com a eletricidade do toque, e fazer daquele céu de pintas a mais bela e singela constelação, era dos meus passatempos, o de maior predileção. Amor recente, coerente, que aqui dentro, por vezes, passava feito brisa outonal, acalentando a alma e me envolvendo em lembranças de momentos que ainda estavam por conta do destino; e na intensidade do olhar, tatear e conectar, virava furacão que arrumava o coração, muito além do colchão e da razão.