Moulin Rouge

Sentava-se todo fim de tarde no banquinho rosa da penteadeira, e observava tranquilamente o próprio reflexo no espelho.

Seu rosto, apesar do tempo impiedoso lhe conferir mais de setenta anos, não mudara excessivamente. Talvez uma ou duas novas rugas situadas na região dos olhos. Seu corpo é que já sentia largamente a força da gravidade.

Eu estava sempre por perto, nem sempre por cuidado: Admiração era mais comum. E como eu a admirava!

Suas histórias mirabolantes de antigos cabarets e a certeza quase absoluta de todas as almas que seduzira.

Eu achava espetacular mirar aqueles olhos azuis que resplandeciam ao relembrar as noites de salões lotados e sorrisos regados a champagne sob a luz do Luar! Sim, estivera em Moulim Rouge entre brilhos que ofuscavam olhares atrevidos e matava de inveja as meninas comportadas da mais alta classe.

Conhecera o seu grande amor no Paradis Latin, um dos melhores cabarets de Paris. Ah!“Paradis d’Amour” Um verdadeiro hino ao amor eterno através dos tempos”! Repetia suavemente enquanto penteava demoradamente os fios escassos, cuidadosamente tingidos de preto.

Ao fim das histórias, ela levantava renovada e saia a bailar pelo quarto a fim de alçar a sala onde já estava servido o chá.

Eu a seguia, entusiasmada.

Ela a frente em seus passos de bailarina cantando baixinho um ritmo desconhecido para mim. Eu mais atrás, atrevidamente pensando que meu tio não soubera de nada disso.

E morrera feliz, acreditando ter se casado com a menina mais recatada da região.

(Jessiely)