Refazendo nossos elos

Quero o encanto das noites altivas

de lua no céu inebriado de estrelas

de fogueiras, danças e magias

Quero o encanto pelo divino, refazer os caminhos apagados pelas areias do tempo, nosso elo com o místico.

Quero os elos que guiaram tantas de nós, que embalaram nossos moinhos de ventos, que nos refizeram depois das quedas inglórias

Quero honrar as histórias contadas, ao longo dessa estrada que marcou até aqui nossa trajetória.

Uma longa caminhada, de fibra, de mulheres destemidas que lutaram e ainda lutam nesta guerra sombria, bem diferente dos contos de fadas, que vem de histórias sangradas, que habitam páginas feridas.

Quero o encanto de encontrar-me com cada essência que trago em minh'alma, pelos valores aos quais fomos moldadas, que desde o nascimento somos consagradas.

Dos ventos que movem Marias!

Que fazem-nos prosseguir, fazem-nos renascer, depois das tormentas, os mesmos ventos fazem-nos submergir.

Pois somos parceiras do tempo, de mãos dadas com universos, levamos aos quatro cantos o amor inesgotável, trazendo os sonhos perdidos sob nossa identidade imutável.

Serenando pelas noites frias, invocando a sabedoria divina para lidar com mazelas desta vida, nesta batalha selvagem, Mostrando nossa capacidade de sermos quem somos, que seremos e tudo que já fomos sem esconder nossa maior verdade... Marias, mulheres, guerreiras, não somos quimeras, não habitamos em fábulas, somos reais, eternizadas nas linhas da vida que tecem a trajetória de tantas marias...

Que somos antigas, como canções eruditas, marcadas, infinitas, em cada partícula, fagulhas genuínas da chama acesa que não se detém, peito fragmentado sob o elmo de coragem, lágrimas engolidas como beberagem,

na dança do tempo que padecemos e transmutamos noite e dia em nossa divindade.

Presinto agora o vôo, por tantas vezes adiado, posso sentir em meu ser,

Um novo rumo...os velhos sonhos

que anseiam seguir por novos ares, por entre as nuvens do céu, a misturar-me aos mares, sentir o cheiro da terra molhada, terra, berço de nossas humanas raízes, cerne de nossa existência, diversidade de vida, em seus tantos matizes, sinto e ouço as vozes antes perdidas no tempo, ressurgirem anunciando um novo renascimento.

Posso agora ver, os elos rompidos, entrelaçarem novamente, na restauração dos versos, nosso mais forte elo.

Heterônimo

Maria Mística