PREGAÇÃO

Os críticos, muitas vezes, são incoerentes. Ao mesmo tempo em que afirmam a existência de prosa poética, renegam a poesia-prosa. Quem sabe da poesia é o poeta. Melhor que a prosa, a crítica, a narrativa, o artigo jornalístico, o texto científico, é a poesia _ porque manda na palavra, subjuga-a, envolve-a, desobedece-a.

A poesia é rainha, deusa, musa.Outrora construíram um palácio para nele o sentimento simétrico habitar. Até que foi uma experiência singular. Mas, não se engane, a arquitetura palaciana com suas quadras bem planejadas, seus sons melodiosos e mobiliário requintado não lograram aprisionar o eu lírico, a liberdade de expressão.

Se a poesia quiser, brinca de roda, pula amarelinha, fica de ponta-cabeça, corta as palavras, joga-os ao vento, espalha-as pelos campos, espeta-as nos troncos secos das árvores.

Se a poesia quiser, se deita na relva, se lança ao mar, afunda, emerge.

Se a poesia assim o desejar, namora, noiva, casa, descasa, ama, desama. Se quiser, se lança ao espaço. Muito antes dos astronautas chegou à lua.

A poesia freqüenta qualquer ambiente. Todos! Até cemitérios, como as de Augusto dos Anjos. Até lata de lixo, como a de Manuel Bandeira. Mais ainda: a poesia freqüenta o céu, é amiga íntima dos anjos, amicíssima dos santos. Escreve com eles nas areias das praias.

A poesia não tem horário, não tem limite, não tem idade, não tem planejamento, nem plano. Toma conta não só das palavras, mas das almas, da música. É deusa, está em todos os lugares. Entregue-se, aceite-a no seu coração, pecador. Aproveite esta chance, ela está convidando você. Renove-se na presença da Poesia, seja um novo homem, uma nova criatura. Mude sua vida! Aceite ser arrebatado pela poesia. Amém, ó musas!

março de 2005