O ser humano e a Natureza: uma reflexão metafórica

Somos lagos, lagoas e represas e, como tais, temos os nossos limites. Portanto, aquilo que os excede, transborda e alaga o nosso entorno. Alagando, fere, prejudica e afoga até mesmo quem nada fez para que isso ocorresse. Assim sendo, precisamos deixar abertos os nossos vertedouros: os risos e as lágrimas. Nada deve ser contido, pois, após as águas baixarem, o que resta é a lama nas margens e esta nos faz atolar como em areia movediça. Além do mais, ao baixarem as águas, elas assoreiam o leito e isto deixa os limites mais estreitos.

Às vezes somos também rios, que nascem mansos e aos poucos se avolumam, formando quedas d’água. Mas rios também têm suas margens, seus limites e costumamos esquecer disso. Outra coisa que esquecemos é que a mesma água que refresca e mata a sede, pode nos puxar para dentro de si quando a desrespeitamos. Esse desrespeito ocorre ao poluirmos as águas da vida com nossas angústias, medos, dores, intempestividades, pessimismo e afins. Se deixarmos as águas da vida fazerem seu trabalho de limpeza, dentro dos seus limites, isso não seria um problema, mas...

Há vezes, no entanto, que necessitamos da força do mar revolto para varrer tudo de uma vez. Entretanto, quando o mar faz isso, ele traga tudo e devolve o lixo que é nosso, mas, aliviados, temos mais condições de limpar, descartando, reciclando, ressignificando aquilo que nos cabe. Nada disso é fácil e não se consegue do dia para a noite. Às vezes pode levar anos, décadas e, em casos extremos, algumas vidas.

Somos também árvores, flores e demais plantas e por esse motivo obedecemos às estações da vida: há os momentos em que florescemos, os que estamos em plenitude, aqueles em que as folhas caem e, por fim, aqueles em que nada temos a oferecer. Porém, as raízes estão fincadas na terra, buscando energias e esperando o tempo certo para o renascimento. Ou compreendemos e aceitamos (o mais difícil) a nossa eterna efemeridade cíclica, ou estaremos fadados ao sofrimento perene. Por outro lado, da mesma forma que cada ser tem o seu tempo de florescer, secar e renascer, nós temos o nosso tempo individual de compreensão e aceitação das coisas. Querer que as nossas ocorram no tempo do outro, ou o inverso, é apenas perda de tempo.

Também somos sol que ilumina, aquece e cresta inclemente. Nossa sorte é que Gaia, dotada de sabedoria, gira e assim obriga o sol a ceder lugar para a lua. Logo, Gaia nos mostra que somos luz e sombra e que é preciso assumir as duas, pois brilhamos na luz do dia, porém, é nas sombras da noite que nos refazemos. Não podemos deixar de ser ar: necessário, incontível, inconstante. E, por sermos ar, podemos ser brisa, vendaval ou furacão e cada qual tem suas benesses e também seus ônus.

Por fim, a perfeição só existe na Natureza em conjunto porque todos os elementos e todos os seres se conectam em uma interdependência que não permite pensar em acasos, a não ser para inteligências estreitas e encabrestadas. Aí reside o grande erro da humanidade: achar-se a grande, a macromolécula da Natureza e tentar controlá-la, manipulá-la. Não compreende (ou não aceita) que é menos que uma nano partícula no todo que é a Natureza. Importante, todavia apenas uma ínfima peça, parte de uma infinita engrenagem criada pela mente do Grande Arquiteto que alguns chamam de Deus, outros de Olódùmaré, Olorum, Zambi e outros nomes que o meu intelecto não alcança.

Salve todo o povo das matas, salve o Grande Criador!

Cícero – 11-07-21

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 11/07/2021
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