Pássaros

O silêncio reina lá fora. Os pássaros que aqui batem suas asas sem que ninguém os vejam ou ouçam já não me assustam mais, me servem de companhia.

Ninguém nunca está sozinho. Isso já não me acalma. Deprime! Talvez para quem não entende gere medo, aflição, a mim apenas a inquietação de um silêncio que desejo sentir.

Ainda que muitos desacreditem, até falar do assunto evitem, nada impede que eu reconheça minha melhor companhia na ilusão de estar só, na certeza de companhias que desusam de rostos e corpos, mas que falam e gritam para que suas vozes sejam ouvidas.

Ah… pudera eu ter a paz do silêncio por um dia apenas.

Às vezes é difícil descobrir qual das vozes ouvidas é a verdadeira. Elas entram pelos meus ouvidos e percorrem todo meu ser se instalando em minha mente, em minha alma; um silêncio ensurdecedor.

Falas e mais falas. Dizeres extremos. Hábitos que não se deixam mudar. Como sinais recorrentes de uma vida que já não me lembro mais, mas que insiste em ser vivida por quem aqui nem deveria estar.

Uma mente que mente. Como os pássaros que batem suas asas e se escondem em uma brincadeira onde não há graça alguma mais. Tudo o que era vaidade, agora é desconforto misturado à indiferença.

A rebeldia que vive em mim torna-se capaz de mascarar verdade e mentira, me levando a uma falsa paz na inquietação. Onde está a lucidez que me falta? Não cabe fazer juízo do fascínio que me desperta, que insisto sentir.

Ouço um dos pássaros que plana. Me reconheço nele. Não sei como chegou, não sei como vai partir, mas sei que seu lugar não é ali. Apenas entregue à existência atual, vivendo os desafios da vida e da morte inúmeras vezes, dia após dia, através de uma força desconhecida que lhe dirige o pensamento e alguns sentimentos, herdada de alguém a quem se desconhece o feitio, mas não recebido de bom grado por mim.

Como os pássaros voantes, cedo ou tarde acordarei, não aqui, mas aonde minha consciência me levar.

De toda vaidade e de meus tantos outros defeitos estarei livre e então entenderei que, no fundo, o viver depende de todos os reveses que sofremos.

Apenas uma recordação guardada no coração, na mente, na alma. Uma lembrança que acalma, longe, porém, de todas as ilusões desfeitas.

Sigo como a força de cada batida das asas dos pássaros que aqui habitam e fazem suas graças a quem não tem mais disposição para entender. Sou levada por ela de forma natural, às vezes gentil, outras turbulentas, como o pássaro que agora me observa na esperança de que eu desvende seus mistérios, na invisibilidade da fé, mostrando que há muito através dos tempos, no infinito onde habita todo o desconhecido tão sofrido a quem busca por respostas e que não deseja mais ouvir ou sentir aquilo que não é comum a todos.

Juliana Naves
Enviado por Juliana Naves em 12/07/2021
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