Entrega

Entrega-te ou apenas reconhece, aquele que diz mais alto, mas com tanta sutileza que desbota sob nossa razão, seu passar.

São mãos sagradas, estas, que te afagam por dentro e faz desabrochar o que o silêncio em continente espaço, entoa de sua alma.

É por esses caminhos confidentes que escorre aquela canção, acariciando e preenchendo, feito lua adornando a noite; quieta e misteriosa a espiar os amantes. E ela em seu manto escuro reflete nossa própria quietude, a noite; craveja o céu de estrelas para fazer jus ao momento e em nós, desperta o olhar, silenciando o tempo de dentro.

É por aí que nos mistérios das palavras a vida também propõe sua dança e solfeja passos em gestos de palavras aos poetas acordados.

E não poupará espaços; corpo e alma se transfiguram e entregues, manifestam a espontânea causa de tudo.

E nisso, só nos cabe dizer: "divino é o ser que sabe ler teus solfejos, reconhece o tom e dança em tua casa, sabendo que em cada nota ou passo, jamais houve ensaio, pois, por ele tua voz, mesmo que desfeita em sua integralidade, reverbera sempre, o sabor das primeiras vezes."

Kátia de Souza - 25/07/2021