Baião

Meu pai gostava de dançar o baião.

Assim que a música começava, sempre Luiz Gonzaga, ele

se levantava e me estendia a mão, em convite.

Embora eu já soubesse de cor todas as instruções, ouvia com alegria

enquanto dançava: "arrastando os pés, vamos lá".

Ele cantava baixinho, acompanhando o cantor, e muitas vezes eu fui

a testemunha daqueles olhos marejados...

"por farta d'água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão"...

A saudade não tem ritmo.

É impossível acompanha-la, ou se alegrar com ela.

E hoje, sem meu par, deixei de dançar o baião.

Penso que ele está lá, cantando enquanto me vê:

"...então eu disse, adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração..."

(de 2015, republicação)

Soraya Souto
Enviado por Soraya Souto em 08/08/2021
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