É gelo e derrete, na boca e nos dedos.

Amo como a boca dele é fria.

Fria e soluça em silencio, aflita de alguma forma se firma: lábio sobre lábio. Não como se fizesse alguma forma, mas como quem diz que está e está presente com força e proteção, enquanto está com doçura.

Não foram poucas as vezes que em sussurro ouvi desta boca o mais limpo — Eu te amo — e mais uma vez a boca firme desaguava em beijos frios.

Te juro, a boca é fria e estranha num corpo quente, que aconchega e amacia o tempo.

A camisa velha de pano fino, que já fora grosso. Mais velha que o tempo que passei de ser moça pra hoje, enquanto dessa mesma camisa me embolara.

Muda tudo.

Muda o tempo, mudo eu, muda você... E não muda nada.

Não muda o bambear das pernas, o rosear do rosto, a memoria do beijo num pescoço apomoado em adão. Não muda o ranger dos dentes, nao muda o leve do toque...

Não muda, não muda e por quais diabos não muda, se chega?!

De fato chega. Chega porque é gelo.

É gelo — gelo derrete e escorre na boca e por entre os dedos.

Marieta Gruniér
Enviado por Marieta Gruniér em 16/08/2021
Reeditado em 16/08/2021
Código do texto: T7322017
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