É gelo e derrete, na boca e nos dedos.
Amo como a boca dele é fria.
Fria e soluça em silencio, aflita de alguma forma se firma: lábio sobre lábio. Não como se fizesse alguma forma, mas como quem diz que está e está presente com força e proteção, enquanto está com doçura.
Não foram poucas as vezes que em sussurro ouvi desta boca o mais limpo — Eu te amo — e mais uma vez a boca firme desaguava em beijos frios.
Te juro, a boca é fria e estranha num corpo quente, que aconchega e amacia o tempo.
A camisa velha de pano fino, que já fora grosso. Mais velha que o tempo que passei de ser moça pra hoje, enquanto dessa mesma camisa me embolara.
Muda tudo.
Muda o tempo, mudo eu, muda você... E não muda nada.
Não muda o bambear das pernas, o rosear do rosto, a memoria do beijo num pescoço apomoado em adão. Não muda o ranger dos dentes, nao muda o leve do toque...
Não muda, não muda e por quais diabos não muda, se chega?!
De fato chega. Chega porque é gelo.
É gelo — gelo derrete e escorre na boca e por entre os dedos.