Aproximação

Eis-me aqui desobedecendo regras para me aproximar de ti.

Talvez, até porque tenha aprendido contigo não ser doméstica, obediente, mansa à esta doma de fazer tudo, direito. E o que é este que nada me diz e diz tanto quando em meus ombros carrego o fardo?

Quero desafogar os braços e abrir espaço para caber, teu corpo em mim. Saber-te para além dos dentes à mostra, o olhar ferino e a postura de ataque. Quero saber-te mais.

De onde viestes e pra que esta face sombria, nesse agora? Sinto os véus tão finos e as linhas tênues entre eu e você.

Me falastes de forma tão dura o que é para ser e que ainda não sei. És ferino quando a ti não te olho. Mas, vejo e quero saber.

Tua longa pelagem suspira à mostra daquilo que por ti, nem mesmo saiba, mas me convida a este ritual tão caro... onde as palavras calam, onde caço o que dizer.

"Te falei de mim, te mostrei a cara, te lambi a pele, te fiz crescer. Te dei meu colo, te fiz minha parte, te bebi em goles, num vulto, sem mesmo saber."

E agora o que digo, se não sei quem és? Se não posso te dar o que esperas de mim? Se esperas, é claro! O que posso contigo, em mim acolher?

"Talvez o que queiras, talvez o que saibas, talvez o intento de apenas me ver!"

O que me segreda ou suponho, é o que não cabe num texto e quem sabe, nem mesmo querer. Me vem as palavras, o porto que não cabes e é em mim, morada do que conheço, mas custa-me viver.

"Já vives e não acolhes o que é só teu e em mim é só ser. Supõe-te frágil quando de mim aparte e por isso, teme a totalidade se por ventura, nela, se dissolver."

O que faço agora, te beijo a face? Te deixo ir, te componho em versos, te rendo rimas, te trago ao peito ou espero pra ver?

"Já chegastes aqui, agora fica e deixa ser."

Kátia de Souza - 28/08/2021