Pai

Deus abençoe a você, que vai morrer e por quem não poderei fazer nada além de pedir aos céus que você fique bem.

A você, com quem não poderei aproveitar uma vida e nem sequer pude curtir uma tarde.

A você que destruiu toda e qualquer possibilidade de encontro. A você que, por anos, não criou nenhuma forma de proximidade e em nenhum momento de todos os dias fez nada além de piorar tudo o que já não existia. Por que além de piorar e piorar, você fez com que não existisse um você na minha vida.

Todas as suas músicas são horríveis. Toda a sua fala e o seu discurso são nojentos.

Quando você se expressa eu penso que só não quero me parecer em nada com você.

Por que você me envergonha. Por que você me causa pavor em cada expressão e o passar do tempo só fez piorar. Por que quanto mais eu crescia mais eu via você exatamente como era.

Adeus a você que vai morrer e eu não poderei ter compreendido o que significa o que é seu papel, por que é tão tarde demais que hoje já nem se trata mais de você e de mim. Trata- se mais de uma grande pergunta, um grande interrogação. Uma incapacidade ciclovital de entendimento.

Eu desconheço você tão profundamente, que isso remete às coisas primordiais da vida. Por que há maldade? Por que falta amor? Por que comigo? Logo eu que só penso nos outros me perguntei. Por quê?

Não estou com pena de mim.

Eu estou com pena de uma existência toda ser incapaz de resolver uma equação que era para ter sido resolvida com uma coisa tão simples, enquanto era cedo.

Com amor.

Eu não tenho nada a te dar. A não ser algo que não existe na natureza. Mas que você criou.

O vazio, meu pai.

Juliana Mendes Bueno Artemis Lua Crescente
Enviado por Juliana Mendes Bueno Artemis Lua Crescente em 11/09/2021
Código do texto: T7339655
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