Lua

Iluminas-me quando o sol desce e a noite chega. Escura mas nunca obscura, confortante por me permitir camuflar nela e me esconder. Não me esconder completamente, porque na noite escolho viver. Mas me escondendo da culpa, do dever, das regras, do amanhã, e do ciclo repetitivo a que presos estamos como humanos. Pela noite caminho e vivo, desprendida da expectativas da claridade e da procura incessante pela verdade, caminhando mais independente que a minha própria realidade. Caminhando sempre em frente, sem o peso da vida mas com a leveza da liberdade, com simplicidade no caminhar sem ter que me desprender da minha própria vaidade. Iluminas-me sendo a luz da vontade, e do espetáculo que eu mesmo crio dando-lhe oportunidade de a passar para ação, sendo naturalmente protagonista. Protagonista da minha noite e de por em prática o que o meu subconsciente tenta transmitir á minha mente, por momentos. Alcanças-me e tocas na minha pele, levitando o meu espírito e alertando do começo da hora pura, em que não há rezas ou preces que corrompam o desejo. Foste tu a primeira a assistir á realização do meu ser, e és tu quem assiste á sua verdadeira autenticidade, nas noites iluminadas por ti e pelas luzes da cidade. Danço livre sob a tua proteção, no solo que me suporta e sob a tua projeção me transforma no silêncio ou na melodia, cantada pelos anjos da noite em sinfonia. Ando sozinha sob a tua luz, sabendo não ser a única que caminha te contemplando, e sabendo que mais tarde ou mais cedo cruzarei com uma alma que dance comigo sob a tua bênção. És tu a minha força para qualquer conexão e união que mova o meu ser numa onda de magnetismo, e és tu a minha confidente para todos os desabafos sem egoísmos. Então Lua, leva-me de volta a todas as noites em que fui feliz, em que fortaleceste os meus pés pela raíz. Leva-me de volta a todas as memórias que me proporcionaste, e aos estados astrais a que me elevaste. Queria ter um pedaço de ti para te levar comigo durante o dia, para no amanhecer combater a nostalgia. És e sempre serás a testemunha das minhas melhores memórias e de todas as melhores danças da minha existência. Prometo com toda a minha decência, que neste disco riscado a que chamamos vida, ao longo da repetição cíclica sempre esperarei por ti, e pelo momento da nossa dança.

Maria Ribeiro Meireles
Enviado por Maria Ribeiro Meireles em 13/09/2021
Código do texto: T7341521
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