GARRAFA AO MAR

Há décadas atirei uma garrafa ao mar.

Dentro dela depositei sonhos, esperanças e uma vontade quase desesperada de mudanças, além, claro, de uma série de perguntas para as quais acreditava jamais teria respostas.

Ia, em minha opinião, levar minhas buscas e aflições para o outro lado do mundo.

Lá estaria o meu príncipe encantado – e o mundo que há muito havia construído em meus pensamentos.

Atirei-a, e ainda a vi sendo engolida pelas ondas que se quebravam junto aos meus pés.

Minha sorte estava, literalmente, lançada ao mar.

Voltei feliz e esperançosa para casa.

Era apenas uma questão de tempo para se colher os resultados.

E foi-se a garrafa mundo afora, levando consigo os meus mais sinceros desejos de adolescente.

E veio o tempo futuro: dias sobrepondo a dias: meses sobrepondo a meses; e anos se amontoando uns sobre os outros.

Anos mais tarde ainda agradava que do outro lado do mar, lá dos confins do mundo, viriam as respostas para as minhas perguntas e o mapa que me levaria à felicidade que há tanto buscava.

Mas nunca vieram, nem poderiam vir.

Felizmente descobri que a felicidade que tanto busquei na juventude estava ali bem perto de mim; junto aos filhos que tive e às centenas de alunos com os quais convivi por tantos anos.

Analiamaria
Enviado por Analiamaria em 21/09/2021
Código do texto: T7347155
Classificação de conteúdo: seguro