Distante e tão perto: Philip

Em Olinda, no carnaval de 2004, o destino colocou em meu caminho um homem menino que se fez meu irmão. Para ele e para esse encontro escrevi o texto abaixo que não sei classificar, então, chamei de prosa poética.

Nada é mais bonito que a pureza. Gosto da singeleza da selva; da natureza intacta, do ser comum; do falar com os olhos. É da simplicidade do que mais gosto.

Conheci um homem puro. Muito nos falamos e pouco compreendemos do que um dizia para o outro, pois éramos de tribos diferentes. Mas, com muito carinho e sorrisos trocados, caminhamos lado a lado como filhos da terra. Ele, Suíço. Eu, brasileira, nordestina, potiguar.

Jamais passava por nossas cabeças, nem nas nossas conversas a palavra “guerra”. Entendi que por mais que fossemos opostos, bastava um cuidadoso querer para tudo resolver. Ele, falando em alemão e eu tentando entender em bom português.

Descobri que ser civilizados, instruídos, educados não nos torna melhores e que, mesmo uma linguagem com muitos aparatos não é suficiente para tudo conhecer. Outra vez a vida me fez crer que o amor é linguagem universal, verdadeira ferramenta para nos fazer crescer.

Este homem puro não conhecia o significado da palavra “saudade” e eu não fui capaz de lhe explicar. E naquele momento, eu não entendi porque não conseguia lhe dizer algo aparentemente tão fácil. Agora compreendi: Saudade não se explica, não tem um significado. Saudade se sente. Dói um bocado. Se pudesse neste instante enquanto escrevo colocar sua mão em meu peito, pediria que de mim sentisse a pulsação, então lhe descreveria - saudade é esse descompasso no meu coração; saudade é aquele tremor que senti no seu corpo na hora do adeus; saudade é a falta do que há nele e que passou a ser meu.

Conheci um homem puro de verdade. Nos tornamos irmãos. Talvez nunca mais nos vejamos e isto me incomoda. Porém, teremos sempre nossas belas lembranças e nossa terna amizade. Eu gosto mesmo é da fraternidade.

p.s: Infelizmente desde meados de 2005 não tenho notícias do garoto anjo que conheci no carnaval de Olinda.

Analúcia Azevedo. 2004.

Analúcia Azevedo
Enviado por Analúcia Azevedo em 13/11/2007
Reeditado em 13/11/2007
Código do texto: T734851