A dificuldade de ser

Jean Cocteau dizia: escreverei incessantemente até que a minha morte chegue, que meus dedos sangrem, que minha memória me engane. Por isso tenho quatro braços. Escreverei porque escrever é o que sei fazer. Quando escrevo faço viver, vidas, ou mais, a cada palavra, encadeada noutra, e noutra. Faço aparecer mundos. E confesso: mundos menos caretas. Imaginários, povoados. Subjetivos. Mundos coletivos, que dão sentido ao mundo real. Infinitos. O escrito é diferente pra mim, diferente pra ti. Escrever é nomear. Dar signos e significados. É mapear. Inventar. É como resvalar. Escrever é se reconhecer, é se colocar a pensar, dialogar com aquele que lê. É se expressar, jogar para fora, como num grito, num vômito, o ímpeto, mesmo que banido. Escrever é como se pôr a chorar, a sorrir, a gritar. Se movimentar, em velocidade à ponto de arrebentar. Cocteau viveu e não sabia escrever.