"Caixa de ferro" (Dueto com Mago Poeta)

Hoje eu vou dormir ao lado de uma caixa. Uma caixa de ferro. Uma caixa de cristal. A irei guardar com valor superior ao sono, superiror a mim.

Porque quando o medo chega perto e respira pesado ao meu pescoço, teu sussurro ainda ouço. Teus passos marcados, tua sombra na esquina. Tua presença atrás da minha cortina: silhueta em claro-escuro, da cor dos meus olhos inseguros. Da cor dos meus sonhos ingênuos, dos meus pesadelos taciturnos.

Do suor das minhas mãos pingam gotas do teu perfume

Amargo...

É o gosto dos teus lábios ausentes, do teu não-ser, da tua presença em cada poro da minha pele, em cada gota de sangue que flutua, imaginária.

No ar, eu te respiro como alma solitária. Na cama, me deito como amante do nada. Tenhos lençóis tua inspiração. E no espelho, marcas de batom deixadas lá por boca secreta, por magia estranha de querer. De desejar distante... Tão perto... E tão longe.

Dorme aqui, sob meus brancos lençóis, a pureza da tua libido e a luxúria doce da tua pele fina e suave. Dorme aqui, colado ao meu corpo, o fervor da tua inconstância e o vital perfume dos teus segundos de contração.

Guardados...

Seriamente guardados em caixa de ferro.

Mesmo que de leve cristal.