Poética - A dialética das tempestades: Iansã

"No furor noturno, os raios descarregavam o céu com a catarse de todas as paixões

A chuva cedia as mais profundas lágrimas da liberdade.

E o horizonte longínquo da vida

rangia sob o peso nervoso da natureza que em mim se esparzia."

Ó vento, substância expansiva que espalha-me para fora de mim até que no mundo eu já não caiba.

Teu sopro vaza-me dos contornos da existência e cinge-me na inquietude celeste do inconformismo.

A velocidade que quebranta-me a alma, eleva-me com todas as forças para a zona incerta do futuro.

No meu peito indômito arquejam os leões da consciência em um coro que penetra o âmago da realidade.

A solidão embala-me em meu próprio peito e faz-me de casulo para que o rugir da vida rasgue as débeis artérias do medo (...)

Ah, por entre a névoa de todas as almas que desencarnam dos meus pensamentos, e por entre o sopro sôfrego das vagas convicções que me abandonam.

Nada me apossa e tudo punge-me de fora para dentro em um estrondo

que bombardeia os canteiros da minha mente.

Por vezes almejo o contraste com aqueles de inteligência fácil e sobriedade cômoda - A força da oposição -

Almejo o destruir do inquietante penetrar da vida pela síntese da breve calmaria.

Mas na lânguida sede que desperta-me por dentro, retenho vendavais em meus olhos e os libero conforme as pupilas do destino se abrem em minhas mãos.

Eu poderia refugiar-me em uma redoma e concentrar toda a minha sensibilidade no que é rotineiro e seguro.

Mas as nuvens do céu moldam o formato da minha alma e introjetariam todo o vidro sobre a minha carne.

"Que o palpitar sublime da liberdade

seja uma oferenda às formas que latejam em minha alma. E que a dicotomia das tempestades sejam poesias extraídas do âmago dos injustiçados."

- Leticia Sales

Instagram literário: @hecate533

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 18/12/2021
Reeditado em 03/03/2022
Código do texto: T7410081
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