Amazônia

 

Duas horas da madrugada.

Hora enrugada.

O silêncio foge das copas.

Ouvi-se de longe o grito das árvores,

É um gemido forte, sofrido, repetido.

As sombras das guilhotinas assustam,

Olhos espiam:

O melancólico macucão,

O pássaro assobiador,

Os corurões, as arapongas.

 

São olhos fundos na escuridão.

São olhos de muita dor.

Dos ensejos,

Dos desejos,

Dos enredos,

Das feras devoradoras e predadoras

Fogem até as formigas carnívoras.

 

Desarrumar o cenário é o segredo.

O uirapuru cala a floresta,

A revoada dos corocas saem em retirada.

As sombras respiram ofegantes,

O desejo humano desliza nos dedos.

 

Está na boca dos que silenciam,

Está nas mãos de quem oculta.

Mãos ocupadas que fazem da floresta

Praças com nomes

E sarcasticamente põem flores

Nas salas de estar.