Em um dia de Sol

Eu estava em um jardim.

Girassóis a dançarem em volta de mim.

Eu a vi.

Era eu?

Um espelho?

Não a reconheci.

Vestia-se a meu gosto, com roupas e tecidos jamais vistos.

As expressões desgastadas.

Os olhos fixos nos meus.

Eu senti e vi.

A história.

Ela nasceu em um dia ímpar.

Resplandecente.

Coroada por rosas.

Um dia radiante.

Nasceu da dor de um grande desejo.

Nasceu de esperança.

Mais que sonhada.

Em uma data maternal.

De uma infância de moleque.

Cresceu com os pés no vento

E os joelhos no chão.

Voava nos solavancos das bicicletas.

Libertava-se em cima das árvores.

Cheirando a suor e poeira.

Deixando mofar suas bonecas.

As brincadeiras precocemente se distanciaram.

Aproximando-se as incertezas, conflitos, isolamento.

Viu brigas, frustrações, tristezas, depressões.

Com livros na mão, vivia outra vida.

Uma certeza: aquele mundo não era o seu.

No coração um grande sonho, lido e relido.

Desejos guardados, imaculados, sacramentados e adormecidos cedo da noite em um quarto trancado.

Amou.

Talvez muito.

Talvez cedo.

Viveu, cuidou e foi cuidada.

Ganhou, perdeu.

Sorriu, chorou.

Guardou o que tinha de intenso para o escolhido.

Sua vida rendeu frutos.

A felicidade não foi uma constante – como nos profundos sonhos.

Aquilo que ela faria diferente, fez igual.

E o resultado foi o mesmo.

Mas resistiu.

O que da vida, sem desafios?

Sonhos perdidos, frustrados... ou apenas escondidos esperando o reencontro?

O que da vida sem o renascer, refazer?

Assim, do torpor, voltei (ou acordei? Um sonho?),

Um tanto fraca, um pouco tonta.

Mas ela ainda estava diante de mim.

E do brilho dos seus olhos,

Arranquei a sua vida,

E a levei entre as minhas mãos trêmulas.

Eu agora sabia como seria.

Eu agora sabia o que fazer.

Eu vi.

Os destinos.

E, mesmo tortuosos, machucados ou doloridos,

Havia um sorriso no final.

- para cada ferida, há (com certeza) a sua cura.