Alarme falso.

- Não tem curiosidade em saber o que penso?

- Sim, tenho, assim como tenho receio de perguntar.

- Facilitarei, novamente, tua vida:

Agora sou um observador, um figurante. Aliás, um contra-regra. Depois que quebrou o encanto, quando o sol preguiçoso da segunda-feira raiou, tudo ficou lúcido, duramente.

Consigo ver de forma clara quando está vestida, encarapuçada.

Tua armadura não brilha, é fosca, tua postura revela o quão retraída está: teu busto se contrai.

E isso me deixa triste.

Há tempos não se despe.

Há tempos vejo desespero em teu sorriso.

Queria ter na cabeça, na ponta dos lábios algum conciso discurso. Queria ser retórico perfeito, queria te dar ânimo, convencer-te a submergir, a viver tal qual criança, sem nenhum tipo de condicionamento.

No entanto, não consigo sequer imaginar o período adiante.

Esforço-me.

Quero imaginar um sorriso verdadeiro agora.

Então, seja feliz em qualquer lugar: Washington, Usbekstão ou, quem dera, em Esperantina.

Por que não?

Deixa o pivete te guiar, mandar em ti.

Socar tua barriga sem medo de pêa.

Deixa o blues fluir e chora um choro melodioso, arritmia infinita, sentimento inefável.

E renasce, retrocede, regressa.

Sente, mas nua.

Sente o toque da ponta dos dedos em tua cicatriz. Sente o movimento abstrato de minha língua em todos os teus lábios.

Despe e sente.

Mas não, agora mente.

Ou tenta.

Sorri largamente mas não consegue ludibriar, inebriar-me.

Não mais.

Tua voz soa temerosa, trêmula, vacilante.

Agora vejo...

E preocupo.