Sapateado do Sapato Preto

 

Desperte o tempo e fale dos segundos,

Reencontre faces no espelho dos solto,

Recolha guardados na velha gaveta do quarto,

Rasgue os inúteis encontros da memória.

 

Tem salto alto o teu sapato preto,

Laços de fita colorido nos cabelos,

Tem grude na parede do tempo,

Uma fronteira que desvia a verdade.

 

Tem laços o teu sapato preto,

Têm véus nos fios dos teus cabelos,

Tem um olhar pregado ao chão,

Vestes coloridas induzindo à paixão.

 

Reboque a esperança e siga pelos trilhos,

O dia acorda nas calçadas sem visgos,

Teus lábios abertos a pedem o azul,

Mudou todo o cenário do quadro nu.

 

Têm pratos na praça da cidade,

Têm mãos que acanham os covardes,

Têm mães de leite que alimentam a nação,

Tem no fim da noite o barulho do trovão.

 

Notícias acendem a cidade. Malícia.

Um cão faminto a me esperar. Carícia.

Um gato angorá a lambuzar a sorte. Delícia.

Tem sapateado nos campos elísios.

 

No sapateado do sapato preto,

Tem o sapateado dos camponeses,

Tem a rima no coração dos repentistas

E na cadência do lápis beijos das letras.

 

Há no tabelado um sapateado da história,

Tem o toque do tambor da nação ametista

E um coração sambista que chora, que grita,

Que grita, grita toda esse magia que é a vida.