Patê Subversivo

Eu tinha dez anos quando aconteceu a tragédia.

Difícil para um menino dessa idade não chorar.

Malvinas ? Não.

Claro que estou falando daquele dia em Sarriá.

Paolo Rossi, maledetto!

Descasque uma berinjela grande,

Corte em cubinhos,

Pique também uma cebola média,

Refogue os dois juntos.

A nação toda se desmancha em prantos

Não pelos motivos certos

Mas uma boa notícia é sempre bem-vinda,

Ainda que advinda do frívolo orgulho nacional,

Qualquer coisa capaz de suprir a carência.

Não é necessário salgar ainda.

Quando a berinjela absorver o azeite

e a cebola estiver dourada,

passe para um liquidificador, ainda quente.

E a seca do Nordeste? Por que resolvê-la?

Se esse problema fosse superado

qual potencial milagre seria vendido

na campanha eleitoral ?

Milagres feitos não elegem.

Acrescente um copo de iogurte natural e bata.

Uma colher de chá de mel,

uma de mostarda

Pode ser Dijon ou amarela.

Foi golpe ou revolução?

Democracia, acho que não.

Demo-cracia.

Governo do demo,

Governo do povão.

Adicione 3 castanhas do Pará

e continue batendo,

Como se fosse maionese.

Acerte o sal, acrescente pimenta a gosto.

Eis um patê versátil,

Vai no arroz, vai na bolacha,

Vai sozinho mesmo, ou no pão.

Meus ídolos estão morrendo,

Pudera, ninguém vive para sempre

Mas é eterna a obra que deixaram.

Meus pais apoiaram aquela baixaria,

Fiquei desapontado,

Claro que foi um golpe,

Acho que vivem numa ilusão.

Não vou ficar sentado.

Vou morrer também...

Meu patê de berinjela não.

Weber Palmieri
Enviado por Weber Palmieri em 20/01/2022
Reeditado em 20/01/2022
Código do texto: T7433317
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