Monólogo com a dor
Ei, dor! Já que entraste sem seres convidada, podes permanecer. Por que não vou te expulsar? Simples! Não sou mal educado como tu, que te aproveitaste das portas e janelas que deixei escancaradas e fizeste morada onde não és bem-vinda. Então podes ficar! Portas e janelas continuam escancaradas para que possas ir embora. Aqui não terás mais alimento farto. Não sejas dramática. Conheço teu poder, mas não és minha amiga. Uma boa e rude professora sim, mas amiga não.
Não vou, como talvez queiras, dar cabo à vida. Tu não me enganas mais. Não nos livramos de ti com o suicídio. Muito pelo contrário. Quando nos encontra após o desencarne, é que ficas mais forte e pode nos levar à segunda morte: a ovoidização. Podes ficar com raiva, eu também fico. Podes doer o quanto quiseres, pois esta é a tua função.
Mesmo sabendo que és resistente, não terás mais tanto a minha atenção. Agora... com licença que eu vou fazer o café e o pão de queijo está quase pronto. Só não te esqueças de que não és convidada
Cícero - 23-01-22