Raízes

Levantei vôo e cruzei os ares,

atravessei as nuvens e vi

um arco-íris no horizonte,

dirigi-me a ele e toquei-o

com as pontas dos dedos:

de cada cor soltou-se um aroma delicioso

e embriaguei-me de prazeres.

Voei mais alto

e alcancei o Sol,

seu fogo não me queimou,

mas abriu um largo caminho

para uma terra de fantasias maravilhosas:

fui naquele momento

tudo o que sempre desejei ser,

envolvi-me com seu aro luminoso

e permaneci observando

a imensidão de meus sonhos.

Fiz um pequeno esforço

e atravessei a barreira das estrelas,

vi um mundo irreal,

um paraíso todo perfeito

e ao meu alcance,

vi o infinito e desejei alcançar o seu fim

e lá permanecer

o resto dos meus dias...

Então olhei para baixo

e o que vi?

— Nada!

Esforcei um pouco o olhar

e notei que havia

uma minúscula partícula de pó,

longe,

muito longe...

— Zombei!

Porém, ao tentar apoiar-me no infinito,

ele evaporou-se,

e com ele tudo o que estava à minha volta:

exceto o grão de pó.

Percebi, então, que a única coisa

real mesmo,

era aquele grão que vagava

tão longe de mim...

Esforcei-me e tentei descer

em direção ao mundo real e,

à proporção que me aproximava,

ele tomava dimensões cada vez maiores,

até que perdi o controle

e espatifei-me no chão,

em meio a raízes...

Ali fiquei, porque ali é o meu mundo,

e continuei a rastejar entre as raízes,

pois são as minhas próprias raízes...

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