Posteiro

Recolheu os bichos, deu de comer. O minuano prometia. No uivo seco, da última coxilha, já se fazia ouvir. Ajuntou apeiros e ferramentas num canto do galpão. Lavou a cara. A água esfriava, parada, no tacho. Entrou no rancho vazio. Rancho recôndito. No fundo da sesmaria. No último marco. O marco da solidão. Atiçou o fogo. Cortou dois nacos de charque. Mastigou ávido. Sem intervalo. Alheio ao range-range da porta. Da folga da tramela. O fogo avivou. Chegou a cambona. Ajeitou-se. Diante. Tirou as botas. Os pés enregelados, esfregou, coçou. Lembrou os caminhos. Dos caminhos do dia. De todos os dias. Dos dias todos. Dos pés esquecidos nos caminhos de sempre pelas coxilhas. No começo. No fundo. Na solidão. No ermo da vida. Na fronteira. Aproximou, pouco mais, do fogo. Levou as mãos. O fogo chamejava, esquentava. Mais lenha. O minuano assovia lá fora, pela vazia vizinhança. Na vastidão. Cevou o mate. Sustou. Até a água chiar. Sustou o olhar. No nada. Sustou nada. Não acumulava pensar. Nem olhava. Desvia. Esquecia. A água chiou. Sorveu dois ou três mates. Estropiado. Arranjou os pelegos e o bichará no estrado. Junto ao fogo. Picou um fumo. No calo da mão. Sem pensamento. Sem matutar. Sem atinar. Recostado. Lambeu a palha. Acendeu o pito. Puxou uns tragos. Estendeu-se. Fluído. Dormiu.