Texto têxtil

Caligrafia tece a insigne letra em lã vã

pelos fios ligeiros do tear das palavras

na tessitura dura do instrumento costura

o texto que urge enquanto a malha urde

no palpável aconchego do linho claro.

A faina mecânica o cashmere dissolve

em algodoada escrita vestida de céu

entre nuvens e novelos, nus e novelas

o corpo se adere à indumentária restrita

vestindo o calor em pele de vida inscrita

remendada em largo véu de lisa textura

que se entrelaça na mão de quem cerze

feito saia azul de fazenda antiga na cerca

do sítio de roupas lavadas penduradas

sob o sol que quara e esquenta o corpo

já esquecido dos aromas tão distantes

exalados pelos panos no chão espalhados

em pobres fábricas de anos enferrujadas.

Toda origem é despida do estofo esforço

em cobrir a natureza e a candura inocente

com a rede sintética de amarrilho bordado

Mas a acetinada existência exige a nobreza

de vestes emplumadas no ser distinto e breve

em culta teia que aprimora sua boa silhueta

e na sede de torpor pela sedosa escrita cuja

caligrafia tece a insigne letra em lã vã

pelos fios ligeiros do tear das palavras

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 02/02/2022
Código do texto: T7443317
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