como uma onda no mar

apesar de quente

a tarde está esfriando

e logo o Sol já vai se por

nesse lado da Terra

e na escuridão da noite

as astrelas vão brilhar...

A impermanência

"Tudo passa, tudo sempre passará, a vida vem em ondas, como um mar, num indo vindo infinito.." ouço o Lulú Santos a cantar e minha voz se junta à dele..."tudo passa o tempo todo no mundo..". Sim, tudo passa o tempo todo, é a Lei (anitya... anitya...), a Lei da Impermanência, da qual nada, ninguém, neste mundo fenomenal, escapa. Todos os fenômenos são impermanentes, ou seja, mudam, se transformam a todo instante, de modo que "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia".

O Universo é uma onda, uma dança de Energia.... átomos, moléculas, células, tudo interagindo constantemente, se influenciando mutuamente todo o tempo, levando as mudanças... de momento a momento, mudando. Só mesmo a mudança é imutável, disse um sadhu (sábio). Tudo mais é impermanente. Tudo se transforma sem cessar e a tal ponto que, depois de longos períodos de tempo, nenhum dos aspectos anteriores permanece o mesmo, em nada, absolutamente nada.

Nascemos, crescemos, envelhecemos, morremos... mas também as árvores, e as estrelas nascem, mantêm-se e morrem. Da mesma forma, os pensamentos nascem, mantêm-se e morrem, as emoções nascem, mantêm-se e morrem, as sensações também nascem, mantêm-se morrem.

Se queremos escapar do sofrimento, nos diz o budismo, temos que reconhecer e aceitar essa Lei. Aceitar a brevidade da vida. Aceitar a impermanência de todas as coisas.

A Impermanência não deve nos amendrontar, ao contrário deve nos encorajar, nos inspirar, nos motivar, nos levar a valorizar e louvar a Vida, cada momento nosso, nosso tempo de aventura na Terra, na existência na forma humana. Quando compreendemos essa Lei, quanto entendemos que um dia se uniu vai ser separado, passamos a dar valor à nossa vida. Sem apego, mas com responsabilidade e alegria, passamos a viver intensamente "o aqui e agora". Deixamos de ser reatores para sermos atores (ou co-atores) do que nos acontece.

Por acreditar que o que está acontecendo acontece só com a gente, e que vai durar eternamente, muitos de nós reage instintivamente, inconscientemente - e muitas vezes de forma nociva e até cruel - ao que nos acontece, aos que os outros nos dizem ou fazem, e nos apegamos ou sentimos aversão por pessoas, por sensações, e assim, criamos (a mente cria) o sofrimento em nossa vida, tornamo-nos infelizes.

A Impermanência ensina-nos que, por mais dura que seja a situação presente, por mais dolorosa que seja uma sensação, chegará o momento em que ela mudará, desaperecerá, será substituida por outra situação, por outra sensação. Isso, porém, não deve nos acomodar, nos fazer cruzar os braços. Ao contrário, a adequada compreensão da Lei da Impermanência faz com que cuidemos de cultivar bons hábitos, bons pensamentos, pois as mudanças que ocorrerão inevitavelmente serão para melhor, e não para pior. O bom horticultor sabe que se plantar boas sementes os frutos também serão bons. Daí que cuidaremos de nosso corpo, e de nossa relação com os outros seres, com consciência, com respeito, com zelo. Aprendemos a valorizar aquilo que temos, aprendemos a abençoar e louvar todos os momentos de nossa vida; aprendemos a ser gratos a todos os que cruzam o nosso caminho, a todas as situações por que passamos; aprendemos a utilizar o nosso tempo da forma mais produtiva possível.

Outrossim, ao entendendermos que essa Lei rege tudo o que existe nesse mundo fenomenal, passamos a desenvolver, a vivenciar, o Principio da Equanimidade, ou seja, passamos a manter a "igualdade de ânimo na prosperidade e na adversidade" , pois estamos conscientes da ausência de um elemento pessoal e eterno - que se origina do apego e acarreta toda uma gama de sofrimentos através das nossas vidas - Já não nos pertubam as sensações de nossos corpo, as nossas percepções, bem como as nossas composições mentais, ou emocionais, sejam eles agradáveis ou desagradáveis, pois são apenas energia fluindo, passando, mudando, a cada instante, tudo com começo, meio e fim.

Somos Energia,

energia fluindo

como tudo no universo

Somos moléculas dançantes

nos manifestando numa forma humana

Somos átomos, elétrons, quantas de energia, gravitacionando numa moldura humana, mas que num dia, ou numa noite, se transformará, ou se manifestará em uma outra forma... pássaros? maçãs? serpentes? talvez estrelas... e daí? E daí que enquanto humanos devemos ser como dançarinos, girando alegramente, ou surfistas, sempre saúdando Vida "como uma onda no mar"

Lia de Oliveira

Belém-Pará

Lia de Oliveira
Enviado por Lia de Oliveira em 20/11/2007
Código do texto: T744839