VAMOS, DIZ-ME DE TI

Vamos, diz-me de ti !

Agora podes contar-me das caminhadas em silêncio,

com a respiração fumegando ritmos ocasionais.

Podes contar-me das tuas melancolias de cidade grande,

onde as lágrimas não correm pelas faces jamais,

como se houvesse alguma coisa de frágil nisso e,

expor-se, fosse algo demais.

Ou como se fosse mais fácil precipitarem-se duma vez,

em algo parecido com um pular de degrau,

ganhando o espaço vertiginoso da queda e

conquistando para si mesmas aquela fração especial

do momento que se isola do resto...

aquele microcosmos caindo, caindo sempre,

mas sem uma ligação real com ninguém.

Lágrimas desgarradas, vertidas sim,

mas ali ao lado, tão distantes e separadas da dor humana

como qualquer outra coisa

em brilhos de normalidade...

De todas as formas, agora podes contar-me.

Os teus passos já sombrearam o concreto duro das esquinas

há mais tempo do que eu gosto de sentir saudades.

Depois sumiram, como os passos sempre fazem,

deixando-me apenas a sede atrevida da imitação satisfeita.

Vamos, diz-me de ti !

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 10/02/2022
Código do texto: T7449230
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