Solidão
Acostumei-me com o exercício da solidão.
De repente algo acontece, como um raio, vem como uma chuva, a molhar minhas entranhas secas. Sinto o seu frescor, deleito-me nessas águas. Chego a pensar que a solidão se foi. Minhas sementes se incham, ensaiam germinar.
Acordo na manhã seguinte. O quarto está vazio, não há vozes, não há sombras, não há presenças.
Meu corpo está só. Não floresceu.
A chuva foi um sonho, passou.
Reflito, volto ao meu interior. Vou de encontro a minha solidão. E ela sorri para mim, como a dizer que só ela é minha companhia. Mas por um instante pensei que não mais a sentiria. A solidão que demorou tanto para ser minha cúmplice. Resisti por muito tempo à sua compaixão.
Finalmente entrego-me a minha velha amiga e fiel solidão!