Se Houver um Tempo

Se Houver um Tempo

No descerrar das cortinas, percebo-me como uma tartaruga a passos lentos, observando, procrastinando o término da minha passagem.

Vejo as árvores, com mais ternura e paro à sombra de algumas... Se desse tempo, sentaria na grama a observar o bate papo das formigas... Ou, aportaria às margens de algum riacho doce pra sentir o sabor das suas águas cristalinas a refrescar a minha pele sazonal, desgastada...

Mas, vou olhando, sentindo, alheia, deixando o vento escorrer em minhas veias...

Se ainda houvesse um minuto, mostraria de frente meu umbigo, não haveria necessidade de mantê-lo tanto tempo escondido...

Não tenho pressa... Como a tartaruga, observo a paisagem. Ainda dá tempo de contemplar a imagem do universo, brincar com as nuvens a desenhar carneirinhos, ouvir a música das ondas e cantarolar baixinho à chegada dos barcos, observar a volta pra casa dos passarinhos, em bando de banda, voando fazendo alarde, no final da tarde...

Assim, eu ficaria de bem com toda a natureza na imensidão da sua grandeza, em comunhão com os meus dias de pura melancolia...

Então, vou lenta no meu compasso, a me arrastar, passo a passo, navegando nas minhas pequenas alegrias, aproveitando esse resto de dias, descortinando surpresas, aprendendo o auto amor e a empatia no silêncio das coisas...

"Viver é um rasgar-se e remendar-se"

(Guimarães Rosa)

bmh@ 16/02/2022

Bárbara Hupsel
Enviado por Bárbara Hupsel em 26/02/2022
Código do texto: T7460694
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