Para todos os Contistas

O contista é uma inspiração hermética rompida, germinada, sem extremos. Melhor dizendo, sem um término em si mesma. É de um lirismo que enaltece e encanta, simulando contar, mas, também é de uma exaltação que sofre, fazendo-se de alívio em uma ilusão instigante. Ela é a palavra que conta e que faz, que restabelece, mas na verdade machuca e fere fundo o cotidiano cinza do nosso orbe, sem afeição e com tanta apatia, pois a nossa natureza se perde aos poucos, deixando só o nosso parasitismo, é o tédio da promiscuidade que desespera, num orbe que nos vende tudo em troca de nossas vontades nímias. A prosa é de um lirismo amargurado, fora de moda e de uma inspiração seva, pois causa inveja e uma impotência por não saber compor um conto assim.

O contista é um arquiteto, um inventor, que faz do cotidiano áspero uma ferramenta maleável que sente, nos vocábulos que luzem em letras intensamente. Vagando por aí, inspirado pela semente dos que vieram antes dele, numa maravilhosa prosa lírica e universal de Guimarães Rosa, Bocage, Bilac, Baudelaire, Rimbald e tantos outros que com seu lirismo fantástico ainda nos fazem sonhar. Num ritmo alucinante, o conto se agrega aos nossos anseios mais profundos e inertes, brame alto no meio da solidão inerme destes homens e mulheres solitários.

Numa velocidade cênica de Shakespeare a Amadeus o conto pode sim ser encenado nos rostos dos leitores amadores, numa bacanal de alegria instigante. O leitor sente os meandros da trama fantástica de caserna, nas mortes e alienações de ontem e amanhã. Num sim quase indigesto pelo poder de atrair os leitores, o conto é completamente cênico e às vezes cômico, num ir e vir de trocas inefáveis dos personagens reais. Já as crianças vêem nos contos de fada a alegoria tão palpável da ilusão da vida de faz de conta dos pequenos, numa espécie de viagem sui generes elas vão e voltam com as bruxas, príncipes e princesas dos Irmãos Grimm. Numa fuga aceitável, elas, as crianças, refugiam-se neste mundo da fantasia que são os contos de fada.

E quando o conto é recitado para as crianças as estéreis palavras parecem germinar e se transformam no fruto do interesse dos pequenos, numa reação em cadeia contínua e salutar que prende a atenção pela cobiça do saber o final do conto, e seus meandros mais áridos se transformam numa torrente de águas caudalosas que revigoraste. Numa espécie de roda da cultura popular desde antigas eras, o conto vem contribuindo para enriquecer o saber lingüístico dos alunos, tanto na memorização de novas palavras tanto como no aprimoramento do uso das que já se conhecem, numa verdadeira miscelânea de saberes a serem revelados aos distintos alunos.

Em suma o conto deve ser levado como um parceiro a mais no ensino de língua portuguesa neste país tão combalido pela miséria cultural, um instrumento a ser moldado pelo contista numa forma que desperte no aluno um interesse forte e vertiginoso nos cérebros ainda vazios do néctar da cultura das palavras moldadas para atrair essa atenção. Concluo que o contista é peça importante na educação de massa de qualquer país incluindo aí o Brasil e suas mazelas impertinentes.

“Deve-se preparar a mente ou o laço.”

Antístenes

DR SMITHY

Dr Smithy
Enviado por Dr Smithy em 21/11/2007
Código do texto: T746675