...palavras ao vento

Ao raio de sol perante o clima plúmbeo dos corredores...

É inevitável redigir-lhe e não cai na tentação do encanto, pois é justamente isso que tu aguças e significas. Se – como dizem – a poesia é um presente dos Deuses, então recebo essa inebriante graça e a ti ofereço-a, mesmo que eu não cumpra devidamente com o zelo apropriado – mas que, sem dúvida, se revela ingenuamente afável aos variados momentos. Interpelar-me se cumprir com tal encargo é difícil? Não, não faça isso – tardiamente digo-te! No entanto, se tento te escrever, uma constante irremediável me atrapalha. Relembro muito da Idéia Fixa de Assis, com ressalva que essa estimulava o cumprimento de uma tarefa, enquanto aquela impede. Impede-me. Assim, peço-lhe, caso eu seja incauto na minha forma de expressão, paciência nessa leitura se, porventura, ela se torne redundante. Digo-te que essa repetição ocorre em virtude de seres o que és, de representares o que representas. Talvez seja por sua incalculável beleza, pela doçura de sua voz, pelo seu olhar fascinante, pelo delicado andar que possui, por...

Não é a representação de ser indigno disso, mas confesso-lhe que jamais encontrarei algo equiparável a sua reluzente beldade. É, por conseguinte, o texto mais complexo com o qual me deparo. Apesar da curta duração de nosso convívio, venero-te de modo incansável e progressivo. E caso haja alguma objeção à minha idealização, aquela está, desde já, a interpretar erroneamente. Mas, nesse texto, tu não estás sendo posta em sua forma mais encantadora; estás a parecer uma lucerna, enquanto devias apresentar sua magnificência solar, sua origem das origens das luzes, sem a qual não existe vida, felicidade, pé se quer de flores. Pois és imprescindível para a luminosidade desse universo, palpitante a cada piscar seu. A importância que exerces é tal que se perde em meio às infinitas maneiras de combinação das diversas letras. Sinto que estou à beira de exauri-las e não desempenho devidamente a confiança que me foi atribuída pelos Deuses. Isso ocorre em virtude de que nada – nem ninguém – pode se equiparar a sua unicidade. Mas se algo um dia conseguir realizar tal proeza, considere-me não apto a escrever-lhe – proponho, no entanto é inútil; sei, pois, que és inigualável.

A verdade é simplória: tu és a mais bela; Afrodite não espere estar dignamente ao nível. Nem mesmo os espartanos – em período da religiosidade matriarcal – teriam dúvida em fazer menção desse fato. Esse é visivelmente inquestionável. Assim, estando acima de um dos Deuses e sendo esses os concessores do presente, és tu quem me oferece tal divindade; tento apenas retribuir-lhe essa dádiva, da maneira mais grata que se possa imaginar. Pois não é qualquer pessoa que conseguiria manter-se ao chão com isso. Mesmo assim, arrisquei. Lancei mão de infinitos zeugmas à minha frente para dizer algo sobre o encanto que lhe pertence de forma única e específica. E só agora percebo que eles não foram nada além que paliativos de minha redundância.

Alexandre J. Nobre.