Diário de um poeta depressivo

Mundo, 03 de Maio de dois e mil e nada!

Estou esgotado de tanto pensar...

Estou esgotado de caminhar pelas ruas, pelos becos, pelas estradas...

Estou esgotado de ler, de escrever, de dissertar e filosofar sobre qualquer coisa...

Estou fadigado de amar a vida, as pessoas, a minha família;

Estou exaurido de existir e de viver.

Não há nada de belo no mundo!

(O belo só no existe na esfera dos conceitos e do olhar subjetivo...)

Tudo nesta vida é caos, crimes, impunidades, doenças e mortes.

Meu coração quer dormir,

Minha alma quer dormir,

Minha mente quer descansar pra sempre,

Meus sentimentos não querem sentir absolutamente mais nada.

O céu perdeu seu azul poético,

As ondas do mar não mexem mais com as minhas emoções,

Não sinto mais alegria em nada,

Sinto nojo de qualquer ato sexual ou cópula,

Sinto repulsa por qualquer tipo de contato físico,

Sinto vontade de vomitar

ao sentir a presença indouta e vil desta estúpida sociedade,

Queria sumir dessa Existência incognoscível.

Não tentem me alegrar:

Toda alegria humana é vazia e oca,

Toda alegria humana é fingida e teatrada,

Não há motivos lógicos para sorrir

diante desses absurdos que regem este mundo insano.

Estou esgotado de tanto sonhar,

Estou exausto de tanto tentar ser feliz,

A felicidade é uma utopia escravizante e aviltante.

Por que o suicídio consciente e lúcido, assim como a eutanásia,

são vistos como crimes?

Porque eles ainda são pensados utilizando-se argumentos religiosos e morais,

E sabemos muito bem que a moral também está impregnada de fragmentos religiosos.

Fragmentos e argumentos religiosos que não podem ser provados

Empiricamente, cientificamente e nem indubitavelmente.

O suicídio consciente e lúcido é uma escolha inteiramente do próprio individuo;

É o individuo quem deve decidir se ele quer continuar ou não vivendo,

E essa sua escolha, que vem de sua própria liberdade e de seu arbítrio,

deve ser totalmente respeitada.

Ninguém no mundo pode vivenciar as minhas dores, as minhas aflições, as minhas angustias,

Os meus medos, os meus problemas cotidianos, as minhas mazelas, a minha morte;

tudo isso, e muito mais, só eu é quem pode sentir e vivenciar todas essas coisas.

Ninguém pode sentir e vivenciar essas coisas que ocorrem em mim por mim.

Ninguém pode experimentar as dores e a morte do outro,

Pois cada um de nós vai ter que experimentar, sozinhos e individualmente,

Suas próprias dores, sofrimentos e a sua própria morte.

O suicídio consciente e lúcido, assim como a eutanásia,

é um direito que está incluso em minha liberdade e em meu próprio arbítrio.

Sou eu quem decide, e mais ninguém, se quero ou não continuar vivendo.

Castrar este direito de nós é nos roubar o pouco de liberdade que a vida nos dá.

Será que até esse direito, que não pertence a sociedade,

nem a um Deus irreal, nem a religiões, nem ao governo, nem a conceitos éticos e morais,

mas que pertence exclusivamente a cada um de nós,

Será que até isso vão nos arrancar?

Uma vida e um mundo que castram e nos negam a nossa liberdade de crermos no que bem quisermos,

E que nos proíbem, com suas legislações questionáveis, a decisão que só cabe unicamente ao individuo

A sua própria escolha de querer ou não continuar vivendo não é vida,

E por isso não vale a pena amá-la, nem lutar por ela, nem valorizá-la.

Uma vida institucionalizada com suas leis absolutistas e irrevogáveis que subjugam o nosso arbítrio de decidir por nossa própria vontade o que achamos o que é melhor para cada um de nós,

é uma vida lúgubre, anêmica, cadavérica, miserável e maldita.

Onde está o respeito, a tolerância, e a liberdade para as nossas idiossincrasias?

Tudo nesta Vida está estupidamente burocratizado.

E não me venham com essa coisa que somos essenciais a sociedade,

Pois este argumento é puro papo furado.

E não me venham com conceitos aristotélicos e cristãos,

Feitos por dois indivíduos que no fim de suas vidas escolheram o suicídio.

Amar é uma idiotice,

Sonhar é uma estupidez,

Tentar ser feliz é uma perda de tempo.

Tudo o que o homem constrói não passa de inúmeros distintos paliativos,

Preenchendo seu tempo com coisas lúdicas que eles chamam de essenciais e necessárias,

Mas que no fundo são tão insignificantes e descartáveis como tudo na Existência.

Tudo são esfinges torturantes, e paliativos religiosos, conceituais, humanistas, ideológicos, e químicos.

Não sei por que a vida vale a pena ser vivida.

Não sei por que continuo vivo...

As coisas que possuímos acabam no final nos possuindo e nos encarcerando.

As coisas que dizemos amar são tão inúteis quanto tudo na vida.

Não somos essenciais a nada neste mundo.

Apenas as pessoas fingem que se importam com a gente.

É pura mentira,

Quando saímos pela porta,

Elas voltam a pensar só em si mesmas.

Todas as demonstrações de amor e de altruísmo

são apenas mais uma outra faceta do egoísmo humano disfarçado elegantemente.

Por que tudo o que é continua não sendo nada?

Todas as explicações que vós possais me dar

não amenizam toda a in-finitude de minha dor.

Ah Sócrates, meu amigo! Deixa, por favor, que eu tome o teu lugar,

E permita que eu beba a cicuta letal da Existência,

E que não haja nem pós-mundos, nem divindades,

e nem verdades a se descobrir atrás da cortina da Morte.

Que haja tão somente silêncio e a mais pura inexistência plena e bela.

Quero mergulhar no leito abstrato da noite,

E não acordar para a Existência nunca mais;

E que o manto afagante da Morte mantenha

meu ser hibernando para todo o sempre.

Quero dormir perpetuamente no útero do Vácuo.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 03/05/2022
Reeditado em 03/05/2022
Código do texto: T7508578
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