Eu ouvi um menino chorando porque bateu o pé na porta da geladeira. Olhei pra ele um tanto acalentada, pobre menino... Mal sabe ele que o coração tem dedo mindinho e quando bate na quina, a dor é insuportável.

Quem nunca sofreu por amor pegou um atalho: tentou encurtar as distâncias, se perdeu e não encontrou o destino.

Na trajetória da vida, a intensidade é a única placa em que é proibido estacionar. Amor é parada obrigatória.

Nas curvas assimétricas da providência, daquilo que jamais se pode escapar, os karmas sinalizam na horizontal, só não veem aqueles que perderam a pureza de olhar nos olhos e enxergar a profundidade do sentimento.

O menino chorava sentido, não conseguia dominar a dor que lhe vinha como consequência. Compassivo o amor, vive dando preferências. Não ultrapassa os limites, ou não deveria.

Olha menino, apesar da dor, siga em frente. As experiências sensitivas passam com o tempo, na maioria das vezes, e sequer deixam sequelas. Dor doída, empalidecida de verdade, é da saudade de um amor natimorto. Declive acentuado com estreitamento de emoções. Amor não cabe em vias de mão única.

Subitamente, a ausência causa ferimentos e danos irreparáveis. Não há regulamento que extinga a sanção de esperar vaga em coração ocupado.

Eu ouvi um menino chorando. Enquanto o coração estacionava o sentimento na vaga da esperança. Era puro, tal como o da criança. O espaço era pequeno e, por isso, fez baliza. No amor, não há desperdício, as linhas definem o limite entre os extremos. O equilíbrio da balança é perfeito.

Eu vi um menino...

E dos teus olhos partiam rios, desaguando em mares calmos, tão comuns nessa estação.

Eu ouvi um menino!

E as cataratas da minha face lavaram o coração machucado.

Amar também é destino curativo.

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 26/05/2022
Reeditado em 26/05/2022
Código do texto: T7524392
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