UM OLHAR NA JANELA

                              FRAGMENTOS
No estrabismo daquele olhar de janelas -na soleira da mais desbeiçada- um par de olhos cansados vagava na solidão amarela das borboletas no pé de açucena.
Entranhado no laranjal, um sabiá quebrava em miudinho o silêncio ambarado da tarde de pouca luz.
Sobras de café sobre a mesa e do fogão ouviam-se recados borbulhantes de feijão em cozimento.
Na casa escorria uma carência desbotada das paredes sem pintura e um gato enovelado na cadeira sonhava telhados lavados de luz por onde um dia ainda haveria de reinar.
E aquele olhar na janela , mergulhado na tarde morna , delatava um coração prestes a explodir.
O quintal era seu mundo e no condominio das alfaces, joaninhas fofocavam serenas.
Esquivando-se no pé de buchas a cerca de ripas delimitava o território de uma vidinha insípida.
Quisera ter asas e voar!...voar!...
Ir para longe, muito longe...
Então o céu esmaecido, subitamente borrou-se de verde e um bando animado de maritacas lhe convidaram.
Os olhos marejados deram-lhe asas e o convite foi aceito.
Joel Gomes Teixeira
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 01/06/2022
Reeditado em 04/06/2022
Código do texto: T7528865
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.