Confissão do Itabirense

Alguns anos vivi em Itabirinha.

Principalmente quase morri em Itabirinha.

Uma tora de madeira me seguia, enquanto eu rolava morro abaixo.

Fui salvo pela Pedra da Boneca,

Que se ergue bela, imponente.

Foi ela quem retardou a velocidade do tronco.

Por isso sou de pedra.

Coração mole.

Eu a vi pela primeira vez da carroceria do caminhão, quando mudávamos para Itabirinha.

Foi um baque.

A gratidão que tenho pela vida vem da Pedra.

Com ela aprendi que as dúvidas não serão dissipadas.

É a dúvida que me impulsiona.

A Pedra da Boneca me ensinou, que nem sempre a menor distância de um ponto a outro é uma reta.

Ainda hoje é ela quem me faz lembrar a nudez macia de Auxiliadora e de seus seios juvenis, duros como a Pedra.

Dos nossos desarvorados beijos nas tardes quentes de Itabirinha.

Hoje sou letra solta no alfabeto.

Itabirinha não é apenas uma fotografia na parede.

Como a Pedra da Boneca, cravada em meu coração.

Mas não dói!

Foi durante a releitura de algumas poesias de Carlos de Drummond de Andrade, especialmente Confidência do Itabirano, que me veio a ideia de escrever sobre meus dias em Itabirinha. Uma coincidência: Itabirinha, diminutivo de Itabira. Drummond o poeta maior, eu o poeta menor.