Coragem contra o nevoeiro

Um dia será preciso coragem.

Coragem para mergulhar no nevoeiro úmido, para encarar seus vultos sem rosto, para desviar dos seus borrões luminosos que vêm na contramão.

Um dia será preciso coragem para enfrentar não o que se esconde lá dentro, mas sim o que nasce de lá, os rebentos da incerteza, aquelas coisinhas que surgem e rastejam, que fazem chiados baixinhos como se fossem bicho do mato, que te dão arrepios frios como se fossem febre, que estão do teu lado e se camuflam como se fossem teu reflexo.

Porque um dia será preciso coragem para chegar do outro lado do nevoeiro, descobrir se há outro lado.

E não a coragem dos filmes, inflamada, cavalheiresca. Será preciso a coragem sincera e doída que se acumula às gotas durante madrugadas insones fitando um teto. Só uma coragem grande assim para conseguir ver o que é, afinal, esta longa avenida nublada: se é o caminho ou só uma perna do labirinto.