Eu não disse adeus

Me recordei de ti durante a chuva, e até acreditei que quando ela cessasse você chegaria, mas era apenas a esperança que o vento soprava pelas frestas das janelas.

 

O sol que veio cheio de calor depois, não aqueceu meu coração resfriado pela saudade que insiste em lacrimejar meus olhos como se quisesse imitar a chuva que fora embora.

 

A mesma janela por onde contemplei a chuva ontem, hoje emoldura um dia bonito lá fora, mas aqui dentro de casa assim como dentro do meu peito, tua ausência umedece tudo, e há bolor nos meus sentimentos.

 

Há mofo nas minhas memórias que não se renovam mais, que apenas se repetem como uma nota desafinada de um instrumento bolorento cheio de incontáveis partículas de poeira.

 

Quando o sol completar seu arco no céu, a noite chegará impiedosamente sem expectativas de mudanças, pois o ciclo interminável da tua ausência afastará a perspectiva de conversar contigo novamente.

 

Eu não te disse adeus naquele dia, meu irmão, não consegui dizer adeus para aquele corpo que não mais continha a tua essência, e ainda emudecido, lembro da amizade que construimos, que não se encerra, porque embora tu não mais existas nesse mundo, te perpetuo nas minhas memórias.

 

Partistes e deixastes a lacuna que só os irmãos deixam quando se vão, e não há registro que tenha ficado de ti que seja realmente fiel a tua memória.

 

Por isso, eu não disse adeus.