Contemplação ou devaneio
No alto de um monte, olho ao redor
O vento no rosto, o cheiro de mato.
O corpo leve, a pele se arrepiando... Liberdade?
Se eu pular daqui morro.
Mas enquanto olho, sinto paz, alivio.
E o tempo escorre lento, ou não passa.
Posso voltar muitas vezes
Ou nunca mais, a vista... Tão bela...
Como olhar para uma janela
Uma fresta onde resta ainda um instante
Onde não desvanece, onde permanece...
E solitária, aqui vou voando.
Nas asas dos sonhos, cantando sem voz.
Ouvindo o som do vazio que o silencio às vezes tem.
Com o sabor de uma tristeza que vem de mansinho.
De lembranças, tempos que não voltam, ou que não existiram.
Ilusão? Viver é si iludir, desiludir, sobrepor em torpor.
É lutar sem nunca vencer, ou perder.
É conquistar o que sempre se teve, ou nunca vai ter.
É dançar conforme a canção, ou na melodia da emoção.
É ser loucura na sanidade, não distinguindo mentira nem verdade.
É se dar sem ter medo, mas sem se a apoiar, só vivendo, sentindo.
É dar sentido, é ser melodia, alegria, fantasia, é poder gritar.
Como quem nada tem a temer, é ser mais que estagnado.
É viver sem o pecado de chorar noites sem lua.
Ou de andar correndo pela rua sem contemplar.
O mistério das paredes, o sussurro do pisar.
Qual o preço de sonhar? Devaneando sem cessar...
Deram-me asas ao nascer, ou esqueceram de tapar.
Os olhos para não ver o que realmente é viver...
Não me digo sábia, não tenho nenhum poder
Mas sou um pó a terra, que sonha e quer aprender
O motivo real, o sentido, o existir, as possibilidades do amar.
E do alto do monte, olho ao redor, e não vejo o que há fora
Mas o que há dentro e pulsa e geme, e diz: contemple...