Debaixo das nuvens longínquas

Do alto do morro lá de minha casa avisto um horizonte verde e azul. Verdes são os morros, recobertos de árvores e densas matas. Azul é o céu além, até onde a vista alcança. Então o menino que cresceu aqui me sussurra seu sonho de viajar, além do horizonte que vejo, depois dos morros verdejantes, onde divisam aquelas nuvens ao longe, onde o azul do céu se encontra com as linhas das elevações. Talvez debaixo daquelas nuvens estejam terras nunca antes vistas pelos olhos do menino, onde correm águas cristalinas entre as rochas, e haja saltos brancos em piscinas claras. Pode ser que em certa terra cantem pássaros de cantos desconhecidos e plumagens estranhas, e as frutas, suculentas e doces, sejam proveito de um povo alegre que por lá vive. Talvez, seguindo por essa outra direção que vejo (mais ao Norte?), por onde se vê poucas nuvens, o menino que me acompanha fosse encontrar o mar diante de uma praia dourada. O calor daquelas paragens seria imediatamente rebatido pela brisa sempre refrescante das águas. Nessa costa se ouve a canção do mar ressoar dia e noite, canção de eras que banharam (e banham) as terras dos continentes, e que vez ou outra traz conchas e mariscos, algas e pérolas, seres estranhos e plantas de um outro mundo. Lá poderia haver um lugar de paragem e descanso, não só do corpo, mas da alma. Poderia, também, ser de tantos segredos ao longo das praias e da costa que ainda houvesse muito para se descobrir. Se o menino tivesse um balão, diria ele, poderia ele se aventurar através desses horizontes, sempre atrás das terras que debaixo das longínquas nuvens ficam, e de lá do alto veria todo o esplendor dos fins de tarde dourados, recortando formas entre as nuvens e pincelando os morros de cores de memória envelhecida. Ainda que houvesse mais para ser explorado, e o menino sabe que há, ele teria que sempre voltar aqui nesse ponto em que estou. E como que quisesse fazer teima, já vai lamentando voltar para casa. Mas aqui o tempo passa e o vento faz ruído. As nuvens passam por cima e desaparecem. A tarde cai e vem a noite. Os passos me movem, e vejo a paisagem (ou paisagens?!), de outras maneiras. Sabe o menino? Sei bem que se esconde atrás de cada pedra, folha e tronco. Sei que me surpreende longe , onde não espero encontrá-lo. Mas o retorno é sempre certo. Outros horizontes o esperam.