casa caiada
Dezembro 1994;
O Bar e restaurante funcionava num chalé meio desengonçado e decadente, pintado com cal branca, alugado a dona Wanda por R$350,00;
Localizava-se na esquina da pracinha que ficava no meio da bifurcação entre a avenida que dava na praia e a outra que ia para o aeroporto;
Em seu muro lia-se : “ Restaurante e Soparia Casa Caiada”
Nome sugerido por Miliotti;
Que de restaurante não tinha nada,
e de soparia tinha muito;
Num dia antes de sua inauguração, o acidente no cruzamento da ponte da Coroa do Meio com a Avenida Beira Mar, acordei com a cara inchada e sangrando numa maca do Hospital de Cirurgia;
As paredes do espaço eram adornadas com quadros de artista de cinema e de filmes consagrados , Bird, Caterine Deneuve, Cinema Paradiso; Ladrões de Bicicleta
enquanto um computador velho completava o cenário;
Um balcão tomado emprestado do pai de L. era onde se preparavam as bebidas e onde eram atendidos os clientes;
Na parede, atrás do balcão, no alto, mas ao alcance das mãos, haviam duas prateleiras onde eram exibidos os drinks: rum, uísque, conhaque, aguardente, vodca; absinto; Martini, Gin;
A luz das arandelas dava um tom colonial até às 23 horas,
A luz florescente com papel celofane azul e vermelho emprestava um aspecto cow ao o bar na madrugada;
O menu: sopa de aspargo, de cebola, abóbora, champignon, caldos de lula, ensopados de polvo, caldo de sururu, sopa de legumes, caldo verde;
Mas a lentilha acebolada reinava absoluta, a turma ficava em polvorosa quando acabava esse prato;
À tardinha colocava as mesas e ficava a postos;
a esperar o movimento da noite;
Era uma casa frequentada por uma fauna diversa, bichos-grilos, tresloucados, intelectuais, estudantes; políticos, artistas, decadentes;
Políticos falavam do último comício, e a vitória de Lula ainda era um sonho distante;
A rapaziada do cineclube Fantomas se reunia ali;
C. dava gostosas gargalhadas, e ninguém haviam pirado;
Lá se tomava sopa, cerveja e Coca-Cola e outras bebidas e se comia petiscos preparados pela irmã;
Enquanto o papo corria solto ...
E os fregueses se empanturravam de lentilhas aceboladas, ao som do Talking Heads, Chico Sciense & Nação Zumbi; David Bowie, Cartola, Moreira da Silva e Tom Zé; , James Brown, Pink Floyd, The Clash, Cássia Eller, etc. etc..
Recitava-se poesias, exibiam-se filmes, e tudo era meio amador e mágico,
E todos saíam dali satisfeitos;
E arrotavam sopa no ar suspenso pela fumaça de cigarro;
E as três da madrugada aparecia à turma da balada, querendo arrobar o bar para tomar o último prato de sopa;
E pela manhã ia fazer as compras no supermercado para a tarde preparar o cardápio da noite seguinte;
E a galera que não frequentava o Engenho e Arte ia pro Casa Caiada, pois sabia que ali era uma zona livre, onde ideias e pensamentos fluíam,
Enquanto o Engenho e Arte era bar de gente cabeça, politicamente correto, o Casa Caiada era o avesso;
Um dia abri a porta do banheiro à força e encontrei um cliente no sanitário feminino, na maior cara dura, a esquentar pó em prato raso e pedir desculpas pela demora;
Na passagem de 1994 para 1995, fizemos uma festa de arromba, com fogos de artifício e a casa foi pelos ares, e todos os pudores foram suspensos;
No outro dia o lixo: seringas, camisas de vênus, latinhas de cerveja, restos de sopa, clientes embriagados, uns por sobre os outros;
O Casa Caiada era lugar de referência, lugar de passagem da cidade, parada quase obrigatória de quem queria ir além da noite ;
Ali se consolidaram laços;
eu acabei ficando com a L.
Muitos foram desfeitos;
Apaixonado se derramavam em amor;
Traídos saíam em prantos;
Amantes se escondiam na penumbra;
Loucos encontraram ali a loucura;
O saudoso Gileno chegava num fusca branco acompanhado de Lurdinha do Saquinho e saía à “francesa” quando já estava alto;
Era clima de fim do século XX e do milênio, e comentava-se sobre o século vindouro;
Havia uma expectativa no ar,
A "onda" era falar mal do neoliberalismo e de FHC, comentar sobre a globalização, o fim da história, e sobre o Plano Real;
Bin Laden era desconhecido;
E Bill Clinton se encrencava;
com o escândalo Mônica Levinski;
E tudo era encantado e onírico,
Ao menos ali no Restaurante e Soparia Casa Caiada;
Dezembro 1994;
O Bar e restaurante funcionava num chalé meio desengonçado e decadente, pintado com cal branca, alugado a dona Wanda por R$350,00;
Localizava-se na esquina da pracinha que ficava no meio da bifurcação entre a avenida que dava na praia e a outra que ia para o aeroporto;
Em seu muro lia-se : “ Restaurante e Soparia Casa Caiada”
Nome sugerido por Miliotti;
Que de restaurante não tinha nada,
e de soparia tinha muito;
Num dia antes de sua inauguração, o acidente no cruzamento da ponte da Coroa do Meio com a Avenida Beira Mar, acordei com a cara inchada e sangrando numa maca do Hospital de Cirurgia;
As paredes do espaço eram adornadas com quadros de artista de cinema e de filmes consagrados , Bird, Caterine Deneuve, Cinema Paradiso; Ladrões de Bicicleta
enquanto um computador velho completava o cenário;
Um balcão tomado emprestado do pai de L. era onde se preparavam as bebidas e onde eram atendidos os clientes;
Na parede, atrás do balcão, no alto, mas ao alcance das mãos, haviam duas prateleiras onde eram exibidos os drinks: rum, uísque, conhaque, aguardente, vodca; absinto; Martini, Gin;
A luz das arandelas dava um tom colonial até às 23 horas,
A luz florescente com papel celofane azul e vermelho emprestava um aspecto cow ao o bar na madrugada;
O menu: sopa de aspargo, de cebola, abóbora, champignon, caldos de lula, ensopados de polvo, caldo de sururu, sopa de legumes, caldo verde;
Mas a lentilha acebolada reinava absoluta, a turma ficava em polvorosa quando acabava esse prato;
À tardinha colocava as mesas e ficava a postos;
a esperar o movimento da noite;
Era uma casa frequentada por uma fauna diversa, bichos-grilos, tresloucados, intelectuais, estudantes; políticos, artistas, decadentes;
Políticos falavam do último comício, e a vitória de Lula ainda era um sonho distante;
A rapaziada do cineclube Fantomas se reunia ali;
C. dava gostosas gargalhadas, e ninguém haviam pirado;
Lá se tomava sopa, cerveja e Coca-Cola e outras bebidas e se comia petiscos preparados pela irmã;
Enquanto o papo corria solto ...
E os fregueses se empanturravam de lentilhas aceboladas, ao som do Talking Heads, Chico Sciense & Nação Zumbi; David Bowie, Cartola, Moreira da Silva e Tom Zé; , James Brown, Pink Floyd, The Clash, Cássia Eller, etc. etc..
Recitava-se poesias, exibiam-se filmes, e tudo era meio amador e mágico,
E todos saíam dali satisfeitos;
E arrotavam sopa no ar suspenso pela fumaça de cigarro;
E as três da madrugada aparecia à turma da balada, querendo arrobar o bar para tomar o último prato de sopa;
E pela manhã ia fazer as compras no supermercado para a tarde preparar o cardápio da noite seguinte;
E a galera que não frequentava o Engenho e Arte ia pro Casa Caiada, pois sabia que ali era uma zona livre, onde ideias e pensamentos fluíam,
Enquanto o Engenho e Arte era bar de gente cabeça, politicamente correto, o Casa Caiada era o avesso;
Um dia abri a porta do banheiro à força e encontrei um cliente no sanitário feminino, na maior cara dura, a esquentar pó em prato raso e pedir desculpas pela demora;
Na passagem de 1994 para 1995, fizemos uma festa de arromba, com fogos de artifício e a casa foi pelos ares, e todos os pudores foram suspensos;
No outro dia o lixo: seringas, camisas de vênus, latinhas de cerveja, restos de sopa, clientes embriagados, uns por sobre os outros;
O Casa Caiada era lugar de referência, lugar de passagem da cidade, parada quase obrigatória de quem queria ir além da noite ;
Ali se consolidaram laços;
eu acabei ficando com a L.
Muitos foram desfeitos;
Apaixonado se derramavam em amor;
Traídos saíam em prantos;
Amantes se escondiam na penumbra;
Loucos encontraram ali a loucura;
O saudoso Gileno chegava num fusca branco acompanhado de Lurdinha do Saquinho e saía à “francesa” quando já estava alto;
Era clima de fim do século XX e do milênio, e comentava-se sobre o século vindouro;
Havia uma expectativa no ar,
A "onda" era falar mal do neoliberalismo e de FHC, comentar sobre a globalização, o fim da história, e sobre o Plano Real;
Bin Laden era desconhecido;
E Bill Clinton se encrencava;
com o escândalo Mônica Levinski;
E tudo era encantado e onírico,
Ao menos ali no Restaurante e Soparia Casa Caiada;