Haibun Manhã 1, na linha de 無心

Acordar cedo, mesmo por culpa de problemas no sono, tem suas belezas.

O bairro de Neves amanhece sempre de um jeito lindo e típico: pessoas solitárias viandantes em silêncio, ventinhos de boa qualidade aqui e acolá, pássaros acordando nas árvores e um curioso ritmo lento do céu e no todo.

Esse ritmo de impermanências e belezas simples que vão e vem (侘と寂, wabi-to-sabi) é o tom mágico da cena.

Quase ouço os pensamentos das pessoas e dos ventos que transitam pela rua. O vento então parece dizer coisas.

(Será um transe ou um experimentação ascética das coisas do mundo?)

O que importa é que tudo isso estimula um amanhecer calmo, sereno, tranquilo, esperançoso e reflexivo.

Também traz consigo uma certeza de que as lutas do dia da vez não serão maiores. É uma linda alquimia, com assinatura do Eterno que a dá e faz saber, por meio da passagem de uma noite a dia (Sl, 19) o quanto o decurso do que vemos é obra e logo logo tudo se irá.

Longe de ficar intranquilo com a lembrança de que passará, eu me sinto contemplado, agraciado com essas ricas cenas inspiradoras de contemplação que me fazem levantar mais devagar sempre que acordo nessas condições dramáticas de sono.

Especificamente hoje, em função desse conjunto, me surgiu um haikai transposto à palavra, e gostaria de compartilhar com vocês na esperança de que conheçam, se envolvam com o haikai e aprendam a olhar as entrelinhas belas de um cotidiano acelerado, pós moderno e pós humano.

dois pássaros

acordam o céu azul

e a primavera

(Mateus, SG, 7 de outubro de 22)

Mateus Schneider Nascimento
Enviado por Mateus Schneider Nascimento em 07/10/2022
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