Anjos que eu alei.

 

     Nos coloridos vitrais da nave, do templo que é minha alma, pousaram figuras angelicais, marcantes, que logo após, adonaram-se também de meus altares e andores.

     No “underground” de meu cativo cérebro, perambulavam sorrindo, munidos de harpas e trombetas, as imagens que dividiam os meus passionais e intensos desejos. Ambos faziam do meu coração uma espécie de nuvem com brinquedos, na qual, às suas margens, se assentavam e entretinham-se.

      Emitiam maviosas melodias de seus instrumentos musicais, que chegavam aos meus tímpanos e se deparavam com os meus já tão entregues pensamentos.

      Solfejavam sons celestiais atrelados aos seus impactantes sorrisos… e aquela nuvem, em que se tornou o meu coração, se desmanchou, como se fosse um algodão doce, dissolvido pelas “aguadas” salivas de uma criança… 

     Anjos descuidados, às vezes machucavam onde se confortavam… anjos lindíssimos que tentei capturar, com visgos e arapucas, somente para mim, para serem exibidos nos vastos viveiros dos meus sonhos, e presos às sufocantes gaiolas dos meus ciúmes…

      Mas, de súbito, cresceram…. as asas se emplumaram, e hoje, só fazem voar… voam  para bem distante dos meus ineficientes cercos… 

Voam, enfim, para sempre, para tão longe de mim!