torres supressas 


Calado fica como deveria ser naquela ocasião
o pensamento trava a memória cessa
Mesmo depois de alguns goles de cachaça
o vento sopra por entre as frestas do portão
Lá dentro silêncio funesto
maresia oxida teto de zinco
sentinela vela a madrugada
a imensa chaminé da fábrica onde um dia trabalhou lança fumaça  na lona breu do céu
o corpo do desempregado jaz no ataúde
a espera da última reza
as beatas seguram o rosário;
fumo de tabaco suspenso
de que morreu este pobre defunto?
"de desgosto, de coléra, de ódio, amargura.  Não aguentou a pressão!" Do que?
" Da vida amarga que levava, das incertezas que em si carregava, dos desgostos que aos poucos foram lhe tomando, do desespero por ter desempenhado tão mal seu papel de homem, pela cachaça que engolia feito água,  fuligem do cigarro que se alojou em suas reentrâncias,  desejo de um dia voltar a ser a criança que nunca foi"
Falência múltipla da vida - suicídio!
Agora nos dê liçença, Pai Nosso que está no céu, santificado seja....Ave Maria cheia de graça...
sai dali embebido do ar funesto;
jasmins penetram em suas narinas;
um leve brisa lhe leva não sabe aonde;
lembra de um trecho de um poema russo que sussura ao vento :
" A infância dos tempos cessa.
verás. E o vento radiante,
O pó das torres supressas;
por tiros de longo alcance"

 
Labareda
Enviado por Labareda em 05/12/2007
Reeditado em 15/10/2019
Código do texto: T765605
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