A palavra, a morte e eu
Houve um tempo em que a morte era a palavra . Houve um tempo em que a palavra era o norte. Houve um tempo em que os caminhos se cruzaram. Houve um tempo em que o caminho se perdeu. Houve um tempo em que tudo era aqui e agora. Tempo em que a morte era o sopro no ouvido meu. Houve um tempo em que o assombro voltou ao tempo. Houve um tempo em que tudo era a palavra, a morte e eu. Nesses tempos, é como se a morte levasse a palavra. A palavra que eu pensei que fosse minha já não era o sopro que em mim nasceu. Será que a palavra já não chega ao sopro, ou eu enterrei a palavra antes de ser eu? Eu queria a palavra que me livrasse da morte. Palavra certa que me curasse da dor de ser eu. A palavra era a cantiga de mim. A palavra fez-se o engano que em mim nasceu. Palavra? Eu matei a palavra. Na espera da palavra certa, velei a palavra que somente apareceu… Eu odiei a palavra. Se não fosse a palavra certa, de que valeria a palavra do ventre meu? Eu morri com a palavra. Se eu mato a palavra, eu encerro a dor que meu peito sofreu? Ah, palavra, quem diria que a morte viria, em ti, me dizer que aqui permaneceu… Sem a palavra que morre, o que resta de mim ainda sou eu?